Príncipe Plebeu



Ah,  nem Imperador nem Rei,
Nem doutor licenciado,
Não sei se morrerei
E  serei incinerado,
Rindo da vida que não entendo.

Ah, nem Imperador nem Rei,
Nem Führer de grei,
Não fora eu nascer na valeta,
E seria pronunciado com respeito,
Quer fosse inusitado ou cáustico.

Ah, nem Imperador nem Rei,
Nem professo pretérito,
(Sem duvidar do que sei)
Néscio e Caquéctico,
Assim definho no meu retrato.

Ah, nem Imperador nem Rei,
Nem sucesso d’empresário,
Se confesso o que fanei,  
Serei preso por tempo incerto,
Na masmorra do estado.

Ah, nem Imperador nem Rei,
Nem famigerado bandido,
Se todos os que inquieto,
Me dão tareia de volta,
E até d’amigos sou lapidado.

Ah, nem Imperador nem Rei,
Do sonho qu’acordado sonhei,
Por d’outros já sonhado, outro, …sonho meu
E nem sei se como real o defino,
E á ilusão de príncipe plebeu.

Jorge M.M.Santos (12/2010)


Samarkand



Na Ágora eles balbuciavam e elas caiavam casas de areia,
Os conquistadores, (excepto os poetas; esses eram justos)
Eles sabiam que o tempo voava, não eu, semilouco:
- (Sei que o deserto, sob as ameias abriga os destroços,

De quando as caravanas cruzavam as dunas,
Com as patas em ferida e sons de sinos de prata
E estendia-se as mãos, para glórias e Messias,
No conforto dos poços, abraçados de palmeiras.)

E os grandes “souks” à beira do caminho,
Eram um formigueiro frenético, de povos sob estrelas,
Onde os homens vinham festejar, agora enfim,
Na Ágora, eles esperam e elas tecem saris de branco.

Aqueles eram apenas astros, que uma vez os guiaram
No deserto através de dunas, vergados de seda
Agora sentados nos calcanhares até de madrugada,
Desmontam a alquimia do que outrora eram.


Jorge Santos (12/2010)
 HTTP://joel-matos.blospot.com

(Baseado no poema de James Elroy Flecker)
“The Golden Jorney to Samarkand”

Se pudesse pegava em mim e seria outra coisa qualquer



Sou cúmplice de um complexo esquema de fraude,
Nunca tive ofício ou profissão mas sou perito “em nada”,
Se pudesse pegava nos dedos e punha-as na fogueira,
Até se tornarem carvão e com ele tisnava a alma toda,
O que sobejasse, claro, não seria salvo da tesoura (ou censura).

A auto-estima é uma harpa, que quando desafinada,
Solta um ruído tosco e em nada igual a voz de gente,
Mas afinal de que me serve o orgulho ridículo e o alarde,
Se minha fala mal afina um gemido dissidente,
E é indiferente a estilos e ao ruído campeão do mundo,

Quem conheço não é meu púlpito  nem me contém,
Nos disjuntos segmentos do tempo corrente,
Que julgo nada mais se chamará do que lenta morte,
Todas as teorias determinam a seu belo modo,
Quanto da alma, do espírito e do corpo ele me rouba.

Exijo duvidar de tudo aquilo que conheço de vista,
Dos calcanhares, do cabelo e da existência futura,
Pois oculto em cada esconde-se a ilusão de uma lucidez perdida,
E assim amarei mais a razão que julgar conveniente (ou convincente)
De suspeita e falsidade, se bem que nem sempre.


Se pudesse pegava em mim e seria outra coisa qualquer,
Menos gente.


Jorge M.M. Santos (2019/12)

O rio só precisa desejar a foz



(É preciso inventar a foz)

O álamo devaneia ao vento
Quando ele sopra nas planícies,
Com o simples roçar das folhas, -completa
Acordes musicais indeléveis-

-Diz, quem ó longe ouve o lamento,
Por não conseguir arrancar Raízes
E abalar c’o vento sem rumo certo,
Do chão duro que foi seu país,

As gotas nos ramos fogem p’lo regato
Pró mar das ondas como falcões livres
Ou Corvos d’mar emigrados do porto

Por’que’não há-de a alma d’ele ser feliz,
Se sonha montado num cavalo solto,
E com’á água, não pára no cais.      

(O rio, por sua vez,só precisa desejar a foz
E volta sempre,sem dizer pra onde foi.)

Jorge M.M. Santos (06/12/2010)
Http://joel-matos.blogspot.com

tradutor

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