Grandes eram os tempos e os céus, gigantes.






Lembro bem de olhar o céu fixo e ficar contente
Era pequeno e brincava ao berlinde e ao pião
Fazia na areia castelos, fossos e o oceano pensava-o
Infinito como tudo do que era eu íntimo no verão

Como o céu de tom pastel e o meu tempo de menino
Contente por haver mundo e ver tudo que fosse
O lado bem do sonho, lembro também de olhar
No céu o limite e ter o tempo a durar pra sempre,

Parecendo grande, grande assim os meus desejos 
De menino contente por ser do pino do verão dono
E do céu o vigilante era eu das muitas estrelas
Que caíam na minha imaginação como os berlindes

E um pião, pião sem guita rodopiando como o mundo,
Inconsciente eu, dele e do meu rumo de gente
Grande, grandes eram os tempos e os céus gigantes ...
Lembro bem de olhar o céu e ficar contente



Jorge Santos (01/2016)
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Acto supremo






O acto supremo da simplicidade
É o ser capaz de sentir a natureza
Exaltar-se quando meia primavera,
Amadurecer no verão ,paliar

No Inverno o coração com o cetim
Dos sonhos pra o sentir tranquilo
No bocejo da seiva, simples como
Fui eu toda a vida e ainda as mãos

Dessa tranquilidade vêm salpicadas
De gotas e da idade, tento de facto
Sentir a natureza e quando estou
De bem comigo próprio as árvores

São o que ma faz parar para respirar
Grande e talvez o mar o luar e o vento
O facto supremo é o que faz a alma
Ao talento distar menor e isso acalma

Da natureza as folhas e a erva quanto
Mais a minha pele salpicada de gotas
De água de todas e das muitas fontes
Minhas e frias rios cenários decerto ilhas

Mil e estradas em Abril Maio Junho...




Jorge Santos (01/2016)
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Olhos conta-gotas





Olhos de conta-gotas

Colasse as gotas de onde as tiro,
Deixaria o mar de ser baixo tanto,
Mais do que mede aos olhos
Da gente, mesmo daquela miúda 
Que passa no cais e nem eu conheço,

Mas não diferente do mar en'frente,
Onde colo os olhos e conto as ondas
Todas...todas reconheço da cor,
O céu que fazia, quando no mar nasci
Eu,por isso do mar as tiro

Com conta gotas, plo prazer
De ter olhos da cor do mar-palheiro
E não o cinza d'ondas gordas,
Esse não cabe mais em mim dentro,
Nem no frasco caça-gotas,

Ou em qualquer eu inteiro...



Jorge Santos (01/2016)
http://namastibetpoems.blogspot.com

Donde venho





Donde venho, velho
Nem o tempo tenho
Tudo se renova e passa
Excepto o querer, o poder

E o Desejar ter, pudesse
O meu sentir perpétuo
Tornar-me para não me 
Sentir perdido aonde estou,

Sem o onde ou o ontem
Ou o engano do tempo
Que me confunde e mata,
Tudo o que valho, é sendo

Tudo o que sinto, nem mais
Nem menos que barata
Que não se deixa ver
Mas se persegue e pressente

No lixo e na lata bolorenta
Deste sentir semelhante 
A ferrugem ou a fuligem
Mas que mata igual

Ao ranço e à doença da velhice,
A esperança não alastra
Como o óleo e é pra mim
Um permanente mistério

A minha existência como ser
Pensante e donde venho,
Passando do tempo ao espaço
Tempo, lento ...


Jorge Santos (01/2016) .
http://namastibetpoems.blogspot.com


A missão dos céus




Chego onde hoje habito,
Por uma escada de ar e vento,
Sou ligado ao precipício,
Por uma missão que é ser visto

De todo e qualquer lado,
Menos d'onde estou,
Talvez por ser esse lugar
Medido plo ar que farejo,

E não plo dar em troca 
O que seria natural, 
- Maresia de mar e gaivota
A voar junto a falésia,

Chego por perto d'onde habito, 
Por uma escada de corda
E ferro, ao passar as nuvens 
Sinto o hálito de Deus no braço, 

Mas na verdade 
É confusão a coisa podre,
- Os dentes feios e meus 
Ligados à língua pela garganta

Oca ,não seria a troca justa
Nem humana ou então 
A missão, não era bem esta...



Joel Matos (01/2016)
http://joel-matos.blogspot.com

Chove







Chove "per si" como em mim em silêncio,
Quando tudo se esquece, isso é chover
E é silêncio por si só e uma sensação 
De esquecer que nos sossega, muda

Como se o chover fosse o que sinto,
Quando não tenho assunto pra sentir
Ou esta coisa que pesa nos sentidos
E é tudo e o mais que sinto e raras 

As que fujo, do sentir que a chuva traz
No bojo que até prefiro não despertar
Dum todo pro silencio que se aprende,
Não deste que me prende numa falsa

Mensagem de chuva, em silencio mudo
Que tudo me faz esquecer mas do modo
De sentir que uso, quando quero sentir
Vasto, quando visto os sentidos todos

Que tem o mundo, de baixo deste mundo.
Chove por si como em mim, em silêncio
E ouro, revela-me a outra margem, alcanço
E persigo essa sensação que sossega

O desejo de mais e mais sentir tudo
A bordo deste meu sentir sentido, cujo
Uso trago e trajo e calço e não mudo...



Jorge Santos (01/2016)
http://namastibetpoems.blogspot.com

Sendo eu outro




Num poema vão as passadas
Comigo e o retrato meu que
Toda a gente conhece mas
Não (como um confessionário

Onde o frade ouve e não sente) 
O poema enfrenta o tempo,
A natureza e quem o lê...
Por vezes estremeço ao ler

Um poema meu e sinto 
A ansiedade do momento
Em que pari e a dor do facto,
Como ninguém mais, mas

Dessa maneira sinto o meu 
Pensar passado um tempo,
Como se fosse o auto-retrato,
Doutro que conheci faz tempo

Como sendo, eu outro ...



Jorge Santos (=1/2016)
http://namastibetpoems.blogspot.com


Aos pássaros acresce o voar...







Os pássaros crescem
A voar, nossa alma
Nasce pra depois voar
Ou não, voando.

Os poemas que amamos,
São pássaros que chegam,
Não se sabe d'onde e pousam
No livro em que lês o auto

Da alma e do amor, sem autor
Ou pagina marcada,
Um dia todos voarão em bandos
Como pássaros,

Autores anónimos, nós outros
Pássaros de prisão,
Cresçam e voem, deixam-me 
Sonhar cada dia mais só,

Cada dia mais sou,
Cada dia mais solto...



Jorge Santos (01/2016
http://namastibetpoems.blogspot.com


Não sei se sei, se não....







Tenho sofrido,
Quer solidão e leveza
Quer de vazios,
Dizer o que sei,

Eu não sinto,
Nem vontade
E contar cura
Não. Tenho sofrido

Independente
Da razão e do
Sítio que liga,
O estômago à mão

que escreve,
Dependendo
Do coração um terço
Que solto,

Solto, faz tempo
Não ....
Tenho sofrido
De esquecimentos,

Mas o que sinto
É que não sou eu
Que esqueço
Onde estou,

Mas tantos outros,
Que me não acham,
No incerto caminho
D'onde venho,

Perguntam à névoa,
Que foi do tolo
Que se perdeu
E esta responde:

-Quem por aqui passa
Com coração à solta
Não precisa guia
Cão, nem tem medo...

Venho sofrendo
De infinitos dispersos
Por tudo quanto vejo,
Unidade na alma,

Esta não vejo,
Estilhaços de azul e céu,
Que agarrei para um uso
Que não sei, se sei,

Se não...

Jorge Santos (06/2016)
http://namastibetpoems.blogspot.com

tradutor

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