Da paixão


Vós, senhoras todas, que entendeis do amor,
Dizei-me, se o tenho eu, no coração,
Se tão distante, é da razão, esta dor
Sentida  fundo, se inspirada desse não.


Senhoras, vós todas, que  da dita entendeis,
S’a vires, dizei s’dela tem a tal gémea,
Que tanto s'fala e sonho, em noites tais,
Ou é mito, apenas  d’meu Lado fêmea.


Será errado, em todas vós, achar beleza,
Não send’a tela dono, nem mestre pintor,
Todas invento, sob leve penugem, a fresa,
No toque, na cor e em meus olhos, sem pudor.



Vós, senhoras todas, que entendeis do amor,
Perdoai , por assim declarar-me , d’paixão,
E , Se culpa for d’alguém, seja d’Ele, Criador
Do belo d'olhar e coração d'est'artesão.


JOEL MATOS
(2010/01)

Tempo Cego


Sinais do tempo


Um Sinal do Tempo sentia,
Na página fim, de lés a lés,
Cerrada , a noite, mas lia,
Cego, página a página,
Talvez na luz, que m’ilumina,
No rosto e , ao cego, que lê,
Quem, não sei ao cert'o 
Seu nom’meu, seu fogo posto,
Num corpo, deitado no lixo,
Mas, não era uma vela, 
Que o guiava a ele, Era
Um sismo, abismo, por sinal
Um vento, um final de rua,
Na palavra, Talvez mesmo, o 
TEMPO. Por isso, eu corria, 
Pela pagina fim, adentro,
E , procurando fugir , dele,
Do tempo , q' aí vem , cego.
































Jorge Manuel Mendes Dos Santos
(2010/01)

Floresta de Sophya




Dentro , no terror  da noite, 



No raízedo d’meias coisas 
Atrás do latejo das veias
Não em redor mas d’entro
Transfiguro-me, não d’gente ,

Entro no luar , a sombra 
É ali , a minha alma alcatruzada 
Secreta , eriçada e negra
Quando  tocada nela 

E as árvores me despiram 
Os seus ramos me taparam
E da evitada floresta regresso


Dos sinais, quebrados em ecos



Que , dos silêncios todos , bebi.

Jorge Manuel Mendes dos Santos

(2010/01)

Meu coração Soldado


Meu coração parou,
Morreu,
Corri de vez a branca porta,
Calado,
Já fui, um dia, poeta,
Como tu,
Agora sou, de vontade,
Levado,
Para lugar bem ermo, verde,
No céu…


Meu coração parou,
Morreu,
Trancado, a chaves, oito,
Selado,
Marquêz d’mil e um leito,
E Réu,
Entre pedras, mais d'quatro,
Sem lado,
P’ra nascer, nem sei, nem onde,
Se eu...

Meu coração parou
E Morreu...Soldado.

Jorge Manuel Mendes Santos  

(2010/01)

Volto já


Volto já

Hoje respiro a custo,
Preciso um pouco , de
Vinho e d’meu mosto.
Hoje choro por nã’ter
Secreto, um só momento
Meu, hoje sinto sangue,
A escorrer por d’entro meu
Dedo- preciso urgente
D’meu tempo. Pareço
Exausto, mas sinto-me
Por dentro como Fausto,
Que vend’a alma ó
Nefasto, em dia desleal,
Preciso fugir daqui,
Preciso de tempo, p’ra mim
Mesmo, preciso, preciso…
 Escrever, correr no vento…                  
(Volto, venho, num momento)

Jorge Manuel Mendes dos Santos
(2010/01)

L'avenir de l'Homme

L’avenir de l’Homme

“Parle-moi de la pluie qui’ci  tombe”,
Enquanto caminhamos, ignorando,
À beira do fim, como quem o sabe,
E apenas finge, ter esquecido:


-A poeira galga, que and’á solta,
No deserto d’sede, depois irrompe,
Na auréola duma lua lamacenta
-Nestes sinais da extinção a galope


E não longe d’uma sinistra ameaça.
-O homem parido aqui já sem crença
No cosmos seja lá ond’ele acabe.


Dis-moi de l’arme de Ceres qui’ci tombe
Lúcida e calma, todas…mansas e breves
Filhas das guerras e caindo a nossos pés.


Jorge Santos

Parle moi de:





L’avenir de l’Homme

“Parle-moi de la pluie qui’ci  tombe”,
Enquanto caminhamos, ignorando,
À beira do fim, como quem o sabe,
E apenas finge, ter esquecido:


-A poeira galga, que and’á solta,
No deserto d’sede, depois irrompe,
Na auréola duma lua lamacenta
-Nestes sinais da extinção a galope


E não longe d’uma sinistra ameaça.
-O homem parido aqui já sem crença
No cosmos seja lá ond’ele acabe.


"Dis-moi de l’arme de Ceres qui’ci tombe"
Lúcida e calma, todas…mansas e breves
Filhas das guerras e caindo a nossos pés.


Jorge Manuel Mendes dos Santos
(2010/01)

Adverso

Ou controverso


O verso que fiz (meu)
Barro queimado,
Nem o vendi caro,
Na tenda, mercado,
Verso mineral,
Baralho marcado
Nã ‘ baralho mais
Se não o sentir,
No forno, a arder,
Estalar no sangue,
(dos meus dedos, dez).


O verso que fiz (meu)
Foi alugado,
Ao mês e barato
Algures furtado
Por um gaiato,
Na loja do lado
E; passo em falso,
Cai na sarjeta,
Ficou molhado,
Não quero mais,
Versos escorridos
(pr’ós lamber na sede)

O verso que fiz (meu)
Dito por maldito,
Bem m’orgulho se,
Rasgado e roto,
Repudiado, mas,
Na estante, vivo…
Melhor, Se estorvar
Por nã’estar morto,
Apesar de plebeu,
É porque é meu,
E é controverso
(deix’ó falar).


Jorge Santos

Pátria minha




A minha Pátria


“A minha pátria é a língua portuguesa”
 Nomeio as palavras que no friso panteão fogem
Em que descubro as promessas por dizer, às avessas
do “se não digo nada de jeito” é no peito que desatino
De um amor que não prescreveu. “Eu ouvi ou ouvi eu”
E eu senti que em meu texto, no meu tempo
Existe o teu jeito e em minha voz o teu sotaque

Às vezes soa também a um hino alegre,
Soa a um riso solto, soa a um grito louco,
E troco a minha vida por um dia de escrita
troco minha vida por um mergulho de voz Lusa
E Nós, quase uma canção d’mar e por findar,
Do fado,” eles me doaram a voz que me dói”
Eu adorei ouvir tua voz e não tive sossego,
Mas tive vontade e, como diz Pessoa , por outra,
“E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz”

Porque “A minha pátria é a língua Portuguesa”

Jorge e outros sotaques

Panfleto


Panfleto

Um dia, direi no que acredito
E virei a praça, e em publico,
Proclamar de um banco, o pensamento,
Escondido no bolso, deste casaco.

Olho nos olhos, estátuas de pedra
Dura, com vergonha, mordi lábios meus,
Senti-me profeta d’algibeira,
Vergastado, num qualquer Altar, sem Deus.

E eu mentiria, se meu protesto,
Não fosse do meu peito, panfleto,
E d’alto gritado, como quem diz:-pára,

“Parem de cavar um poço fundo,
Entre o deles e este nosso mundo,
Ou a voz dos muitos cedo será”


Jorge Santos

sonho ou pesadelo


Tudo Tudo Tudo

Quanto roço se transforma em limo,
Faça o que faça, errei na farsa,
Se, até de mim me tornei sinónimo,
Fosso e palco de uma mesma peça.

Realço o facto de só continuar
Caminho por medo, daquele escuro,
Do lado escabroso, no ir,nã’voltar,
Da cova que, d’ver tremo e esconjuro.

Limei d’mil arestas, senti no casco
A rudeza do martelo e do maço
Só o facho, acarreto por engano

Numa daquelas vielas paralelas
Em que as moradas são, nem caiadas,
Nem, de vê-las, vi despertar meu sono.

Joel Matos

Pessoa Talvez



Tal me fez Pessoa

É talvez o último dia da minha vida,
Tida e sorvida de um único fôlego,
É tal-e-qual ver no escuro, a vereda,
Por, e onde vou, e no quando, cá chego,

Já, e de noite; eu relembro o dia,
- Por ser o último - nem é tristo, nem contento,
Dele que, de fugidia f’rida, invadia,
Não tanto a carne, mais o espírito.

E nem estrebucho, s’esse Tal me fez Pessoa,
Temperado, quanto-baste, até que doa,
Aí, no suspiro do ultimo ai m’apego.

É talvez a mim que vim mentindo, por último,
Em fim de dia; daqueles que mais lastimo,
Se até no dizer, de resto sou Ingrato.

Joel Matos

Tal me fez Pessoa.



É talvez o último dia da minha vida,
Tida e sorvida de um único fôlego,
É tal-e-qual ver no escuro, a vereda,
Por e onde vou, e no quando, cá chego,

Já, e de noite; eu relembro o dia,
- Por ser o último - nem é tristo, nem contento,
Dele que, de fugidia f’rida, invadia,
Não tanto a carne, mais o espírito.

E nem estrebucho, s’esse Tal me fez Pessoa,
Temperado, quanto-baste, até que doa,
Aí, no suspiro do ultimo ai m’apego.

É ,talvez a mim que vim mentindo, por último,
Em fim de dia; daqueles que mais lastimo,
Se até no dizer, de resto sou Ingrato.

Joel Matos

Florbela



Nadas de eternidades, nadas às tonas d’água,
Tudo se afunda, neste t’mor posto em palavras,
Nos tons que me desarrumam, desta tua míngua,
Vestem-me , o drama no eco de pressintas sombras.



Estendo um braço, d’outro grudado ao casco,
Fixo no rasto fedido, deste reles luto,
Em que m’iludo, é com ele que me espanco,
Co’meu cliché mastigado já e sem talento.



Vejo-me neste mundo-sem-ti , num fumo insonso,
Creio apagado o meu lume aceso
Nadas, ao luar ,nas dunas d’aguas  , nas fúrias do mar,



Agonizo em fobia, enraizo d’vegetal,
Bela d’flor intemporal, voos de lástimas e cal
Pura, em que me emprestas, esse orgulho d’amar.



Jorge Santos


As manhãs de manhas.



Do torso e de meu poleiro sou manhoso e
de nuvens me escondo,sou traiçoeiro,
infame até ao peitilho,
nem de conto sou,(valho quanto valho)

e do velho herege e falcoeiro nem vê-lo,
invejo ninfas e vejo pombos sou d'tombos

mas inspiram-me e pronto,todas e todos
mesmo os mortos,
no inferno deste tempo longo

vejo um braseiro plano piano
e o travesseiro bolero bolano

não tem de pranto igual
por ond'ando vulgo eu e dano 

e dano o mote suevo e forte
em noite mundana de faena

 minha pena rasgada de meu flanco
na carreira curta e em de fim-de-ano ,

a minha'avena
é ser termo ,fiquei  aí sem poema 

e se m'apagarem a vela
e se m'desenterram em noite inverna
de lua-cheia.
nas vastas terras de rua 

em que declaro ser musas todas ,todas
as que minh'alma crua persegue 

sendo tuas são todas todas minhas musas
sendo tantas são poucas sempre ,

são minhas manas,minhas manhas
e sendo tuas são belas ,(elas ,as blusas)

porque sao ventos sao tempestades
as cavalgadas por onde me insurjo e fujo
do meu ego se me persistem e perseguem nos trotes
seja em brisa ou cavalos de vento
ou voos de aves rasantes
mas é alma minha sempre e não a vendo

nem que me paguem nem que o garrote m'esmague
o farol o saleiro e os dedos por inteiro.

Jorge Santos

O que sei não sou






Tanto e tanto do que sei,
Sei-o- nem como nem sei-
Do ser que sou e prevejo
D’um vulgo e curto bocejo
No ser fiel de mim mesmo
Não no eu e que escrevo
Se de meu não suporto
Certo enigma do desejo

Tanto e tanto do que sei,
Sonha com o pior vento,
E causa de tudo q’temo,
Ser narrado, a propósito,
Do’eu ter fome no infinito,
Seja vencedor, ou vencido
Nos planos da derrota.

Tanto e tanto do que sei,
Foi ser, do medo, carcereiro,
Quando m’sonhei infanto,
Encarnando o ponto q’traço,
Mas, sendo curto, o braço,
E o seixo, pesado, nã’não sei
Se vida, é ilusão ou, se sonhei
Eu, mais uma vez, acordado.

Jorge Santos

Me & Sophy




Nunca os deuses capazes de os viver




Néctar Sabido, de soro e luar sorvidos,
Julgamos saber amar, depois, em rubor,
Crescemos, em escritos, a escritor
E banidos dos jardins dos Bacos.


Mas em secretos tomos eles vêem,
O céu da luz ,morrer em seus braços,
Apagarem-se ,vícios in descritos,  
Originais ,como só eles bem o sabem


Nas Boreais auroras , eles tomam
Os mantos de Deuses e fantasmas,
Banham-se nos corredores Olimpos,
Felizes , no só serem , e apenas humanos.




Jorge Santos

tradutor

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